terça-feira, 9 de abril de 2013

Quintas-feiras


"Não sei o plural de quinta-feira", disse um dos médicos da clínica na qual eu estava sentada na sala de espera. "Alguém sabe o plural de quinta-feira?", perguntou aos outros médicos, que estavam correndo de um lado ao outro. Ninguém na clínica sabia o plural de quinta-feira."É quintas-feiras ou quinta-feiras?", todos se perguntavam, a dúvida estava instalada. "Quinta, quintas, quinta, quintas", todos médicos, todos profissionais, todos de camisa social e jaleco.
Eu sabia o plural de quinta-feira, mas eu não sou sequer formada, uso tênis todos os dias e não carrego nenhum conhecimento acadêmico.
Ninguém precisa saber todas as regras de plural para salvar vidas, alguém pode dizer. E não era essa mesma discussão que tínhamos no ensino médio? Quando vou precisar saber calcular o volume de uma pirâmide? Quando alguém vai me perguntar novamente sobre a guerra no Paquistão ou me pedir para recitar todos os tipos de vegetação? Os computadores, hoje em dia, corrigem automaticamente os erros de ortografia e, se não corrigirem também, a gente fala que é "regionalismo", "neologismo", "liberdade de expressão", "abreviação" ou simplesmente "senso de humor". É verdade, ninguém nunca vai te perguntar nada, se você então fizer como eu, e nunca se levantar da cadeira para dar sua opinião. Ninguém nunca nem vai saber que você está ali, e vão te perguntar menos ainda. Você pode cursar a escola, comprar seu diploma ou até mesmo pedir pro seu filho de cinco anos desenhar um diploma pra você. Tanto faz, você vira adulto de qualquer jeito, você vira adulto e continua sem precisar multiplicar frações ou saber a diferença entre objeto direto e indireto. Pode descartar quase tudo o que disseram que você precisava aprender e se especializar dentro de um pequeno assunto e só saber falar sobre aquilo. Quer dizer, na verdade, você deve fazer isto! O mercado te quer assim, bem do jeito que você é, obcecado somente pelo que é importante. Todos irão entender que se trata de mais de uma quinta-feira quando você falar "quintas-feiras" ou "quinta-feiras". Não importa e, mesmo que importasse, você agora é adulto, ninguém vai te reprovar por causa disso. E eu te asseguro que essa é uma daquelas coisas que você pode morrer sem saber, pode mesmo, mas pega mal quando você está na frente de um paciente.
Acabou que ficou "quinta-feiras" mesmo.

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