terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cento e oitenta e oito


Eu gosto de palavras, sempre gostei. Gosto de escutar palavras, escrever palavras, ingerir palavras e incorporá-las ao meu ser.
As palavras são fascinantes. Não simplesmente pelo significado que carregam, mas pela imensidão por detrás do que aparentam ser. As palavras têm o dom de dizer o que não consigo. Elas, de repente, arrancam de mim o que, sozinha, eu jamais teria capacidade de expressar. Não sou eu que digo nada. São as palavras que entram em mim, fazem um tour pelo meu corpo, dilaceram meu coração, fazem incisão em todos os meus órgãos, procurando com avidez o que eu luto para manter no meu esconderijo. E aí, depois de me vencerem, elas saem, levando consigo o que eu não tenho coragem de dizer por conta própria.
Eu gosto de te ouvir enquanto coleciono palavras. Sua voz é muito fácil de desmembrar. Antes mesmo de você ir embora, eu já colecionava essas palavras. Estúpidas. Desesperadas. Viscosas. Essas palavras que eu sabia que deixaria de dizer. Tenho, hoje, tantas delas guardadas que, me pergunto, com uma certa surpresa, sobre o que conversávamos.
Mas que tolice a minha... Nós não conversávamos.

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